Ontem, já tarde e com as notícias a passar muito baixinho, captei uma que quase me fez cair da cadeira abaixo: parece que querem gastar não sei quanto dinheiro a mudar o nome do Cartão de Cidadão para...Cartão de Cidadania. Nem precisei de ouvir o resto para concluir o óbvio: zás, as feminazis e feministos de carteirinha (trocadilho sem intenção, mas agora aplica-se mesmo) paladinas (e paladinos, temos de ser igualitários senão levamos tau tau para não falarmos como fascistas) da bela arte da desocupação e de só pensar em disparates, decidiram que o cartão chamar-se "de cidadão" não é inclusivo, é sexista, é patriarcal, ofende...enfim, a lamuria costumeira.
A mim o que ofende no bendito documento é que uma pessoa possa eventualmente ter de se servir dele para trabalhar noutro país europeu onde as oportunidades (ou falta delas...) não sejam tão lamentáveis. E apresentá-lo no aeroporto do dito país e levar com a cara de pena dos que pensam "coitado (a), lá vem mais um portuguesito ou portuguesita de trouxa às costas e diploma em punho em busca de vida melhor".
Ou em última análise, já que é de futilidades que estamos a tratar, que seja impossível, virtualmente impossível, sair apresentável no retrato da porcaria do cartão. Uma pessoa pode maquilhar-se como uma profissional, aparecer com um brushing impecavelmente feito, fazer boa cara, tentar aplicar todas as tácticas da Kim Kardashian para uma selfie perfeita, que o raio das luzes utilizadas para fazer o CC tratam de esbater o cabelo, arregalar os olhos e criar quantas sombras desfavorecedoras há. É um desafio não ficar com cara de parvo (a), ressacado (a), carenciado (a) ou terrorista no documento que se deve apresentar para ir a qualquer parte. Boa.
Voltando à notícia, que se não vivêssemos na ditadura do politicamente correcto eu ia achar que não passava de uma brincadeira, ocorreram-me logo uma data de "vantagens" para este cartão mágico.
Mas primeiro tive de ir confirmar se era mesmo verdade, se eu não tinha ouvido o telejornal já cheia de sono e baralhado tudo. Era. E claro, é mais uma invenção maravilhosa da Esquerda (neste caso, do Bloco). É que já se sabe, as grandes preocupações do lado negro da força - o Darth Vader que me desculpe- são com os brinquedos "sexistas" do Happy Meal, copos
É verdade, sem mentira e muito verdadeiro, vou citar e tudo: o Bloco de Esquerda recomenda a alteração do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania por considerar que o nome actual do documento "não respeita a identidade de género de mais de metade da população portuguesa" (...) depois de cinco planos nacionais para a igualdade de género, Portugal continua a ter, “como documento principal de identificação, um documento cujo nome não cumpre as orientações de não discriminação, de promoção da igualdade entre homens e mulheres e de utilização de uma linguagem inclusiva”. E o chorrilho de tonterias continua, no mimimi habitual: o BE “entende que não existe qualquer razão que legitime o uso de linguagem sexista num documento de identificação obrigatório para todos os cidadãos e cidadãs nacionais”.
O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda “valoriza este documento de identificação pela sua importância e considera que a sua designação não deve ficar restrita à formulação masculina, que não é neutra, e deve, pelo contrário, beneficiar de uma formulação que responda também ao seu papel de identificação afetiva e simbólica, no mais profundo respeito pela igualdade de direitos entre homens e mulheres”.
Como alguém comentou na própria notícia detalhada pelo Observador, isto é obra das "esganiçadas" do costume. Adoro esse nome, esganiçadas. Eu não diria melhor sobre a forma como algumas mulheres queimam a reputação feminina na política. Esganiçadas it is.
E pronto, mulherada, agora com o Cartão de Cidadania é que vamos todas ser felizes ( eu até ia chamar-lhe jocosamente Cartão de Cidadona , mas não podia mudar-se o cartão das mulheres para "Cartão de Cidadã", porque senão podia haver transexuais ou gente que se auto-proclama "sem género" que se melindrasse, claro). Isto vai definitivamente mudar a minha vida e a vossa e resolver quaisquer problemas (tenho de me esforçar para pensar em alguns) que sejam de facto exclusivamente femininos. Face a um companheiro cobarde, daqueles que acha bem espancar mulheres, ou a um doido que nos ataque na rua, basta apresentar-lhe o Cartão de Cidadania, como a Cruz ao Diabo, que ele vai cair de joelhos, pedir desculpa por amor de Deus, declarar-se todo pela igualdade de género.
Com a mudança de Cartão, a economia do país vai transformar-se magicamente, gerando bons cargos para todas as mulheres que, tal como tantos homens, estão desempregadas, e fazendo circular mais dinheiro para que as empreendedoras encham a casa de clientela. Com o cartão maravilhoso, todas as organizações e empresas vão adoptar fantásticas medidas de responsabilidade social para as funcionárias que são ou querem ser mães e as medidas governamentais de apoio à natalidade vão disparar para as alturas, permitindo às senhoras que assim o desejarem serem mães a tempo inteiro.
E de certeza que uma medida tão extraordinariamente boa, que espoleta tão profundas mudanças sociais, vai fazer com que no local de trabalho o problema do assédio sexual desapareça de todo e que as próprias mulheres parem de infernizar-se umas às outras. Assim que tivermos um Cartão de Cidadania e não de Cidadão, os cidadãos vão passar a ser perfeitos cavalheiros e as cidadãs vão começar a dar-se ao respeito e a respeitar-se entre si que é um assombro. Então não é?
Mas não fiquemos por aqui; parar para quê? Estou certíssima de que com isto, os cuidados de saúde dirigidos especificamente ao mulherio vão melhorar imenso. Que nas especialidades de obstetrícia, ginecologia, e porque não, medicina estética, vai ser tudo tão democrático e luxuoso como tem sido para as mulheres que decidem fazer uma interrupção voluntária da gravidez. E já que estamos a sonhar e a falar de privilégios, já agora o Cartão de Cidadona vai dar dar fantásticos descontos em spas, salões de beleza e em lojas como o El Corte Inglès. É uma alegria.
Só falta o Bloco de Esquerda, em nome da Igualdade, tentar aprovar um decreto lei para o Dia da Mulher que dê free pass às maluquinhas de plantão para jantaradas com direito a strip masculino. A seguir virão os wc unissexo, como já há noutros países. Vão-se preparando que ainda vamos rir e deitar as mãos à cabeça muitas vezes, ó se vamos.