Sim, eu acho que devemos deixar aos homens o seu papel de conquistadores. Dar-lhes razão ou protagonismo q.b. E ser delicadas, subtis e agir com a astúcia tradicional, em vez de nos pormos a gritar, a estalar chicotes e a queimar soutiens. O que defendo é tudo verdade, tudo muito lindo e viva a lingerie de renda francesa, desde que estejamos a lidar com gente sã e equilibrada. Quando há honestidade de parte a parte, confiança e transparência. Quando assim não é, talvez uma atitude tão diplomática não funcione, e seja preciso despertar a amazona que vive em cada mulher. Ou antes fazer as malas, porque nenhuma pessoa sã consegue gerir um relacionamento com um ciumento empedernido, que desconfia de tudo e procura provas que alimentem as suas expectativas delirantes.
Não quero dizer que o monstro de olhos verdes não exista no feminino - há mulheres insuportáveis - mas o ciúme masculino vem de um lugar diferente.
De um sentimento de posse completa, de uma perspectiva rígida quanto ao que o relacionamento deve ser, de uma inferiorização da parceira relativamente à sua autonomia, discernimento e modéstia. Um homem desse género não vê a mulher que julga amar como um ser humano capaz, nem como um indivíduo com quota parte de responsabilidade e direitos dentro da relação. E isso dá azo a ofensas graves, que ferem a dignidade e minam a confiança no seio do casal.
A mulher de um ciumento é (na cabeça dele) uma criancinha ou uma desmiolada, incapaz de resistir ao primeiro galanteio que lhe façam. Se põe um vestido um pouco mais revelador -ainda que honesto- não é para si mesma, mas para os homens com quem se cruza.
Se a elogiam, é porque ela provoca isso, e tanto ela como quem inocentemente dirige uma palavra amável estão com segundas intenções. Se sai com as amigas, é para o engate. Na mente do ciumento, a sua "amada" não pensa noutra coisa, nem que na realidade, se trate da mais virtuosa das mulheres. O ciumento vê um rival em cada canto e no fundo, deseja que isso seja verdade para justificar os seus impulsos agressivos. Em alguns casos, se o ciumento sabe que não tem razão ou direito de agir assim, fica-se por insinuações, alfinetadas e quezílias. Não há nada que a companheira possa fazer - justificar-se, explicar, chamá-lo à realidade (sempre ouvi dizer "quem se explica diminui-se").
Mesmo que caia na asneira de entrar no jogo dele e mudar os comportamentos que o "ofendem", que procure transmitir-lhe segurança, que lhe prove por A + B o disparate daquilo tudo, nada é suficiente. Um pequeno detalhe basta para ele gritar aos quatro ventos "nunca mais confio em ti!" e fazer da paixão o Inferno de Dante.
São comportamentos de domínio, questões de poder muito desagradáveis que quanto a mim, nem deviam colocar-se quando duas pessoas estão juntas por livre e espontânea vontade. Uma mulher frágil, insegura, pode conservar uma relação assim à custa da própria felicidade. Já uma mulher forte, com o orgulho e a auto estima no lugar, não tem hipótese - nem quer. Tal como diziam os antigos gregos, " não há amor onde não há confiança".