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Miu Miu |
Diz a gazeta (como dizia o outro...) que inventaram um novo spray que adormece a dor nos pés, à semelhança dos usados pelos jogadores de futebol. A engenhoca promete ser um sucesso de vendas e já está na lista de desejos de milhares de mulheres vitimadas pelos seus stilettos. Pessoalmente, tenho as minhas reservas: se for para trazer na carteira e usar em caso de emergência não digo que não. Depois do mal feito, qualquer coisa que anestesie é bem vinda. Mas aplicá-lo antes de sair
parece-me uma boa ideia para ferir os pés, não dar por nada, e voltar com um problema grave para casa. Grande maluquice.
O que me leva à questão essencial: sapatos realmente bem feitos não ferem (nem cansam) os pés por mais altos que sejam, ou magoam o mínimo dos mínimos mesmo na primeira utilização. Certo, por mais perfeitos que uns sapatos sejam não podemos correr na calçada portuguesa com saltos de 10 cm, mas...calçado com bons moldes e óptimo material não agride, mesmo no temido dia de estreia.
Isto acontece geralmente com as marcas REALMENTE boas. Realmente luxuosas. Não significa isto que não haja sapatos acessíveis e confortáveis: há. Um dos meus pares de festa favoritos foi encontrado numa lojinha anónima da Baixa, uma verdadeira pechincha; não só é deslumbrante como não fica atrás em conforto e execução de uns Miu Miu muito parecidos aos quais confiaria a minha vida. Mas lá está, isso são achados e há mais garantias de conseguir o mesmo efeito fazendo um investimento maior.
Como uma rapariga de costas sensíveis, sei avaliar isso melhor que ninguém. Sapatos que valem o dinheiro mantêm o pé na posição correcta; alongam as pernas; são estáveis; não entortam, não deslizam, nada; e o material é como calçar manteiga. É claro que quando se investe numa marca de boa reputação se espera esse retorno, e não só um design bonito/original/na berra . Uns Gucci, Casadei, Balenciaga podem até não parecer tão diferentes dos outros à primeira vista mas garantem uma bonita postura e conforto ao fim de um longo dia de trabalho, mesmo em saltos finos. Cumprem a sua função de fazer um belo efeito sem que uma pessoa dê por eles, e é por isso que o seu preço é elevado - porque se formos só pelo design, mais vale fazer a festa numa megastore qualquer, dessas que reproduzem a maior parte dos modelos. Claro que haverá excepções (os Manolos têm um bocadinho de má reputação) mas a promessa é essa.
Por isso fico algo desapontada quando vejo certas marcas portuguesas (sem querer dizer nomes) que, querendo equiparar-se aos seus irmãos franceses e italianos (no preço, pelo menos) não têm o mesmo cuidado em relação ao conforto. Faço o maior gosto em apoiar a nossa economia, mas se queremos concorrer com os melhores temos de estar no mesmo pé (literalmente). No segmento médio não se é tão exigente (embora me doa dar 80 euros da minha alma por uns sapatos que me dão cabo dos tendões) mas quando falamos de luxo a história é outra e não se admitem rebordos rijos, saltos instáveis, fivelas incómodas, fechos que torturam e outros pecados.
Como em tudo na vida, há que sê-lo e parecê-lo...