Tuesday, September 16, 2014
A problemática do piropo.
A questão dos piropos tem estado on fire nos social media e revistas online (sobretudo americanas) e ainda não atinei com a fonte. Se calhar isso é secundário, porque o assunto vem à baila de tempos a tempos - mesmo por cá, no ano passado.
Assédio ou não? Devia dar direito a multa, ou não? A questão tem muito que se lhe diga e é claro que não ajuda à discussão que certas alas políticas (adivinhem quais) e certos movimentos tragam para cima da mesa a velha cassete de "acabar com a sociedade patriarcal e machista!" esse papão que ninguém sabe exactamente o que é.
Um portal americano até se deu ao trabalho de elaborar "respostas femininas às desculpas masculinas para o direito a atirar piropos". Umas têm a sua lógica, outras são totalmente disparatadas e caem na lamúria do costume. Ora, as mulheres precisam de perceber que com lamúrias ninguém as leva a sério.
Segundo consegui confirmar com uma pesquisa não- tão- rápida- como- isso no Google - o que prova que a questão está pouco clara - no nosso País o piropo é punido por lei se corresponder a "actos exibicionistas de importunação"(recordo-me de ter visto algo na Lei que proíbe olhar fixamente para as pessoas, mas lamentavelmente não encontro)....
E queiram desculpar as senhoras mais picuinhas, mas parece-me que está razoável assim (a Lei, não a falta de informação sobre ela) e que enquadra aquilo que é realmente incomodativo.
Ponto um: é preciso separar uma brincadeira bem educada ou galanteio de intimidação, insulto, ofensa, injúria. Se formos seguidas na rua, assediadas com palavrões ou coisa pior, é legítimo dizer a um polícia "aquele indivíduo está a incomodar-me". O assédio no local de trabalho e outras formas de abuso estão igualmente contempladas. Quanto às consequências para quem prevarica isso já é outra história, mas o que importa é que tudo isso está previsto, que pode ser utilizado em defesa de quem passeia na rua, que a pessoa que ofendeu pode ser chamada à atenção pelas autoridades e pensar duas vezes para a próxima. Se não queremos dar-nos ao trabalho de perder tempo a denunciar o acontecido porque enfim, palavras leva-as o vento, aí o caso é outro.
Ponto dois: aqui é que o bicharoco torce o rabo, porque a maioria das mulheres não gosta de ouvir isto e salta logo com o argumento revoltado "então agora a culpa é nossa??? Já não se pode andar na rua à vontade?" mas cá vai, de mulher para mulher. A modéstia impõem respeito. Quem não quer o tipo errado de atenção, evita uma apresentação que atraia atenção negativa.
Quero dizer com isto que uma mulher merece ser atacada porque sai à rua vestida de forma provocante? Não, não merece. Ninguém tem o direito de invadir o espaço alheio. Mas vivemos num mundo imperfeito e temos de saber lidar com isso. A Polícia reconhece que as mulheres, só por o serem, são um grupo de risco e desaconselha as pessoas a andar na rua, ou em certas ruas e a certas horas sozinhas, ou com muito ouro, por exemplo. Se andarmos na Baixa carregadas de jóias, com dinheiro à vista, e formos vítimas de furto, o ladrão é menos culpado? Nada disso. É punido na mesma, se o apanharem. Porém, à vítima já ninguém a livra das consequências. Não tem culpa, é certo, mas foi imprudente.
Se é recomendado trancar as portas à noite, ter alarmes no carro, esconder valores em público é porque, bem... não é seguro fazer o contrário. O mesmo acontece quando se trata da nossa pessoa. Não podemos prever as acções de loucos que se acham com direito a tudo, nem esperar educar cada elemento da sociedade.
Com os piropos incomodativos passa-se o mesmo. Quem quer evitar atenção negativa, faz por isso. Recentemente disse aqui que não é a roupa que faz o carácter, é o carácter que faz a roupa. Uma mulher sensata não se sente confortável com trajes que ela SABE, como todo o mundo sabe, que vão chamar a atenção de certo tipo de pessoas e convidar a determinado tipo de abordagens.
Significa isto que quem vai a caminho do trabalho vestida com um fato de saia casaco e passa por uma data de trolhas numa obra está livre de ouvir piropos? O mais certo é que não, principalmente se for uma rapariga bonita. Mas os atrevidos terão menos pretextos para dizer coisas muito ofensivas, por muito criativos ou malcriados que sejam.
Ouvir um "casava-me já" não humilha ninguém. Uma pessoa encolhe os ombros e o dia continua...
2 comments:
- A Bomboca Mais Gostosa said...
-
Este tema gera bastante controvérsia e toca-me especialmente porque infelizmente, desde cedo, fui alvo de "piropos" que iam do educado e que levanta a auto-estima, ao terrivelmente porco, sendo que estes últimos abundam. Eu nunca me vesti de forma pouco elegante, mesmo em mais miúda era atinada. Hoje em dia, uso fato quase sempre, e posso dizer-te que quase sempre tenho chatices. Não sei se no sul é assim, mas no norte, infelizmente, há muito homem porco e sem educação. Já não os ignoro como fiz muitas vezes. Agora, ofereço porrada. Fogem sempre, mas não antes de dizerem coisas que me incomodam.
-
16 September, 2014 12:00
- Imperatriz Sissi said...
-
Bomboca, são os karmas de ser bonita. Já me interroguei se com tantos calções curtíssimos e leggings por aí, eles não acharão mais graça ao que está coberto. Agora a sério, ninguém é obrigada a ouvir coisas sórdidas (e ainda por cima, quando não faz por isso). Esses casos podem ser denunciados e de uma reprimenda ninguém os livra. Suínos existem em toda a parte. Recordo-me de um caso: a minha faculdade estava em obras e havia uma rede a separar os trabalhadores do estreito corredor que ficava para a reprografia. Pois bem, ia eu a passar - com a fatiota mais inocente que se pode, camisa e calças - e um brutamontes encosta-se à rede para dizer daquelas de fazer corar uma carroça. Fiquei verde e perguntei-lhe baixo e friamente se ele se queria que eu chamasse o superior da obra e se gostava que falassem assim às filhas dele. Nunca vi um adulto tão envergonhado. Ficou capaz de se sumir pelo chão...
-
16 September, 2014 12:49